“Uma Atualização Sobre Nossa Família” (An Update on Our Family) (2025) no Max.
Uma série documental sobre uma família de influencers do YouTube, que fizeram sucesso seguindo a fórmula de videos diários sobre a gravidez e sobre a família, focando em compartilhar a vida dos filhos. “Reality TV” no formato caseiro e com a sensação de ser real, por ser “pessoas reais” gravando em suas casas nos seus celulares, falando diretamente com a câmera. Hoje em dia uma fórmula abusada ao extremo que levou influencers a se tornarem bilionários. Mas o que faz esse caso merecer uma série de três episódios?
É uma história de adoção, um casal com três filhos resolve adotar uma criança chinesa, anunciam no YouTube que querem adotar, escolhem o nome antes mesmo de “escolher” a criança, compartilham em detalhes todo o processo de adoção, incluindo como foi escolher a criança por foto, “pesquisar” sobre a possibilidade das doenças prévias, e filmar todo o processo de conhecer a criança em um orfanato na China.
Foram mais de dois anos de exploração da imagem da criança, de anúncios pagos sobre diversos temas delicados. Até o dia que a criança some do canal, ninguém fala sobre, comentários são apagados, denúncias feitas, e somente três meses depois eles explicam que resolveram encontrar um novo lar para a criança. Foi o fim de uma carreira no YouTube.
A série não conta com a presença dos sujeitos narrados, mas escolhe falar de um lugar do outro lado da tela, uma dona de casa que acompanhava toda a trajetória da família, que explica com suas palavras o porquê do fascínio de acompanhar influencers e suas famílias. Em especial, como foi acompanhar a adoção, ela sendo também uma criança adotada de um país asiático. E com esse cuidado extremo dos produtores podemos pensar no que é adoção, o que é imaginar não ser escolhido, ser descartado.
A questão sobre o que é uma criança devolvida, é devidamente abordada através de um casal que fez essa escolha quando sua segunda adoção não dá certo. São muitos fatores que fazem essa série ser além de só um relato de pessoas que fazem escolhas ruins.
É um movimento social que vem crescendo cada vez mais e temos muito poucas leis em poucos países pensando em como proteger essas crianças da exploração, na maioria dos lugares não é uma pauta, é uma brincadeira. A indústria proteje os atores mirims, e crianças que trabalham com propagandas. Mas ainda assim crescemos vendo casos de adultos que cresceram nas indústrias midíaticas e que pagaram preços altos por isso (River Phoenix, Drew Barrymore, Larissa Manuela, Billie Bobby Brown entre outros). Por que esse olhar não abranje as crianças expostas todos os dias na internet?
De influencers que comemoram o número de visualizações do internamento do bebê, bebês que já ganham instagrams antes mesmo de nascer, mães que acolhem “fãs adultos” de crianças de 7 anos em sua casa. Existe todo um mercado impulsionado por pedófilos, que passam “despercebidos” entre os fãs de bebês e crianças. Bebês que crescem e são descartados, viram crianças “excessivamente adultas”, “chatas”. Como é sair dos holofotes? O que acontece quando a performance constante para as câmeras familiares acaba?
Na California recentemente entrou em vigor uma lei, que define que todo o vídeo que é monetizado utilizando-se de imagem de uma criança precisa ter seus rendimentos partilhados em uma conta segura para o futuro dessa criança. Sem surpresa nenhuma ouve um grande êxodo de influencers que de repente resolveram se mudar.
A partir de 2027, a Califórnia implementará uma nova lei que proíbe plataformas de mídia social de criar intencionalmente feeds viciantes para crianças sem o consentimento dos pais. A medida foi assinada pelo governador Gavin Newsom e visa proteger os jovens dos efeitos prejudiciais das redes sociais.
A partir de 1º de julho de 2024, os pais de Illinois serão obrigados a reservar 50% dos ganhos com conteúdo em um fundo bloqueado para o jovem, com base na porcentagem de tempo em que aparecem no vídeo.
Por exemplo, se a criança aparecer durante 50% do tempo de um vídeo, ela deverá receber 25% dos fundos; se estiverem em 100%, são obrigados a receber 50% dos ganhos.
Uma outra série/relato/denúncia acabe de entrar no Netflix. Desta vez expondo o caso de Piper Rockelle e o seu squad desenvolvido por sua mãe:"Bad Influence: The Dark Side of Kidinfluencing” (Má Influência: O Lado Sombrio dos Influencers Infanttis- 2025). Os membros e pais desses muitos anos de squad se unem para denunciar o esquema de abuso e de ganhos para monetizar, as crianças eram forçadas a trabalhar em longas jornadas de trabalho sem pausas, muitas vezes fazendo coisas que não concordam ou não estão de acordo com sua idade. Tendo suas imagens vendidas para “fã adultos”, além de objetos de uso pessoal. A sexualização infantil como mercado exposto em três episódios.
Acompanhamos o relato de vários adolescentes que viveram esse mundo virtual intensamente, é vísivel a falta de entendimento das repercussões dessa escolha, tanto das crianças como dos pais. A tecnologia e o mercado influencer/youtuber avança em uma velocidade sem precendentes e sem vigilância. É comum entrar em perfis onde se expõem “inocentemente” crianças e acompanhar os diversos comentários impróprios de adultos homens, que consideram esse mercado uma “loja de doces”.
Não cabe mais pensarmos nesse lugar tão vasot e extenso como apropriado para crianças sem alguma regulamentação, tanto no sentido de proteger o futuro e o presente das crianças que “trabalham” nesse meio, como os do que apenas assistem e normalizam contéudos cada vez mais esdrúxulos provenientes de um mecanismo cruel de viralização.
Segundo Virginia, enquanto os herdeiros forem menores de idade, a decisão de expor a família nas redes sociais é toda dela. “Eles vão ter que me seguir. Enquanto tiverem menos de 18 anos, eu mando, e vai ser assim” disse
Para os relacionados desse post, vou recomendar um filme sobre adoção e identidade que foge do esperado e já tão mastigado por Hollywood.
Return to Seoul (2022) Uma coreana que foi criada na França retorna à Coreia do Sul pela primeira vez. Ela decide procurar seus pais biológicos, mas sua jornada toma um rumo surpreendente. Um filme de Davy Chou.